Neste
texto, na qualidade de estudante deixo a minha preocupação sobre a
expansão do ensino superior em Moçambique. Numerosas análises
revelaram o papel fundamental que o ensino superior – e o sistema
educacional no seu geral - pode desempenhar para o desenvolvimento do
país visto que este sistema até um certo ponto promove e fortalece
o espírito de democracia, a lealdade dos cidadãos ao Estado e a
solidariedade entre cidadãos enquanto irmãos do mesmo país, um
país onde se procura viver em paz, mas quando necessário, em nome
do qual também se pode morrer a qualquer preço.
Em
Moçambique tem vindo a aumentar o número das instituições do
ensino superior. Olhando para os dados estatísticos, até 2004
existiam apenas 16 estabelecimentos que leccionavam este nível. Este
número aumentou para 46 este ano e consequentemente aumentou também
o número dos ingressos. Enquanto em 2004 o país contava apenas com
20 mil estudantes, actualmente conta com cerca de 120 mil. Trata se
de um esforço louvável (?) que tem vindo a ser realizado pelo
Governo em parceria com as entidades privadas.
Ao
que principalmente compete ao ensino superior é assegurar a
formação, a nível mais alto, de técnicos e especialistas, nos
diversos domínios do conhecimento científico, necessários ao
desenvolvimento do país e esta acção realiza se em estreita
ligação com a investigação científica, devendo no entanto
expandir se a educação superior em todas vertentes. Neste sentido,
o ensino superior influencia em grande escala no desenvolvimento do
país na medida em que os produtos das instituições constituem um
instrumento indispensável para a boa realização de diferentes
actividades económicas, políticas e sociais.
É
neste âmbito que o ensino superior é visto como sendo um
pressuposto que garante um desenvolvimento sustentável e
equilibrado. Portanto, era suposto que a expansão deste ensino
constituísse motivo de orgulho para os jovens e demais interessados.
Mas na verdade, ela representa o contrário na medida em que em
termos práticos existe uma disparidade entre o aumento das
instituições do ensino superior e a qualidade das mesmas. Em outros
termos, a edificação destas instituições parece estar acelerada
em relação a outros indicadores de qualidade tais como boa gestão,
corpo docente qualificado e suficiente, nível da internacionalização
das actividades da instituição etc.
A
visão sobre a qualidade das instituições do ensino superior –
pelo menos dos que andam atentos - é concorde em destacar que são
muitos os estabelecimentos que estão leccionando mesmo sem reunir
condições para faze-lo. O resultado desta acção é gravíssimo. A
grande consequência disso pode ser a produção de quadros
desprovidos do conhecimento do que fazer para o desenvolvimento do
país mesmo depois de ter sentado 4 a 5 anos na carteira
condicionando assim o bom funcionamento das instituições do estado
visto que a
finalidade de qualquer graduado é de prestar serviços ao povo no
mercado de trabalho através da aplicação dos conhecimentos
adquiridos durante a sua formação.
Portanto,
em última análise, estou dizendo que se há deficit na formação
então haverá também no local onde o graduado será alocado para
pôr em prática os seus conhecimentos. Isso pode acontecer em
instituições de justiça, educação, saúde, na
construção de
obras, nos órgãos de informação e comunicação e em muitas
outras áreas. Existem cursos que foram introduzidos recentemente em
algumas instituições onde os estudantes não têm salas fixas muito
menos docentes qualificados e esses mesmos docentes não têm
material adequado para usar durante as aulas.
Ora,
isso é difícil de compreender uma vez que existem critérios que
devem ser seguidos antes da introdução de qualquer curso para
evitar que os futuros profissionais estudem em más condições.
Outras instituições não oferecem aulas práticas mesmo sendo
imperioso. Deparam se com situações sérias de laboratórios sem
equipamentos, bibliotecas pobres, falta de mecanismos de garantia de
qualidade, etc. Fazendo uma pequena avaliação, a primeira impressão
que fica é a de que a expansão do ensino superior só serve para a
arrecadação de receitas. Garantir qualidade dos graduados que é
bom, nada.
Penso
que o Ministério da Educação não deve aceitar a crença de que o
importante é que os cidadãos estejam matriculados no ensino
superior mesmo que as instituições funcionem abaixo da qualidade
exigida visto que o processo de aprendizagem está centrado no
estudante. Isto é, a teoria que diz que a instituição só se
responsabiliza pela inscrição do estudante e cabe a ele (estudante)
plantar e colher o seu conhecimento. Acredito que ao aceitarmos esta
posição estaremos simultaneamente a entregarmos a sua sorte o
controlo das actividades dos estabelecimentos que leccionam o ensino
superior.
Não
estou contra o método centrado no estudante e sim contra a expansão
do ensino sem se olhar para todos os indicadores de qualidade.
Portanto, fica claro que há uma necessidade do Ministério da
Educação através dos órgãos especializados na matéria de
avaliação e monitoria implementar medidas que visam evitar a
falsificação grosseira de quadros. Que o Governo não exista só
para aprovar a instalação de novas instituições mas também para
desenvolver meios que tenham como objectivo contribuir para a
identificação de problemas concretos das instituições de ensino e
para a resolução dos mesmos.
Penso
que fazendo isso, o Governo estaria a garantir a produção de
quadros competentes e consequentemente o bom funcionamento das
instituições que vão colher esses graduados. A expansão em causa
deve ter um acompanhamento contínuo e sistemático de medidas que
visam em última análise contribuir para a melhoria da qualidade
destas instituições devendo assim evitar a discrepância entre o
aumento das instituições do ensino superior e a qualidade das
mesmas.
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